Bons hábitos, contato com a natureza e menos radicalismo: Daniel Becker fala de desenvolvimento saudável e parentalidade

Na terça (30/11), o médico pediatra Daniel Becker, do Instagram @pediatriaintegralbr, fez uma palestra superinteressante na Escola de Pais, ciclo de palestras sobre parentalidade. Daniel tem conquistado seguidores nas redes sociais compartilhando conteúdos sobre desenvolvimento saudável baseados na sua longa experiência como médico e em opiniões de muito bom senso. Um achado nesses tempos de excesso de informação.

Sim, a parentalidade no mundo da infodemia pode ser ainda mais estressante: são tantos os manuais, alguns deles bastante radicais, que nos sentimos perdidos. Daniel é adepto de uma linha que eu chamo de caminho do meio, onde pesa a boa informação, o bom senso e a intuição, com menos cobranças, mais brincadeira e mais liberdade. Essa foi a tônica da palestra do médico que eu resumo aqui em alguns destaques importantes. Uma bússola e um bálsamo para pais angustiados e mães culpadas.

Natureza x tempo de tela 

Feche os olhos e imagine um grupo de crianças felizes e saudáveis. Certamente você não as imaginou fazendo dever ou jogando no tablet, mas sim correndo na grama, brincando. E aí está o problema: há uma desconexão da nossa própria natureza. Nós somos seres biofílicos, pertencemos à matriz da natureza. Nosso corpo, mente, todos os nossos sistemas, tudo evoluiu baseado na relação com a natureza. Mas o tempo de tela tem crescido assustadoramente. Uma pesquisa mostrou que as crianças americanas em 2020 usaram 7 horas de tela por dia, fora as cinco horas de escola remota. Isso são 12 horas diárias. Tirando o tempo de sono sobra muito pouco. A desconexão é tanta que a gente chegou ao ponto de imitar a natureza com grama de plástico nos condomínios e nas escolas. Andar na grama é algo super potente para a criança se estiver descalça melhor ainda: melhora a imunidade, a sensibilidade, a propriocepção (consciência do corpo no espaço).

Uma criança hoje é capaz de passar o seu dia inteiro sem tocar em algo orgânico. Acorda, sai do seu travesseiro de espuma, vai para o banheiro, senta em alguma coisa de plástico, pega sua escova de plástico com sua pasta de dente com petroquímico, come alguma coisa industrial, vai para escola numa caixa de metal, senta num banco de plástico, volta para casa, liga uma coisa de metal e plástico. Totalmente desconectada. Se ela tocou num coleguinha, no pai ou mãe esse foi o único contato orgânico que ela conseguiu ter. 

O território essencial da criança é a natureza. A natureza ensina. Regula o o bem-estar fisico e mental. Melhora a concentração, o sono, a escolaridade, a socialização. Reduz obesidade, agressividade, hiperatividade, infecções, ansiedade e impulsividade.  Afasta das telas, traz mais consciência e reduz consumismo. O livre brincar é a linguagem essencial da infância.  A arte de brincar na criança é a arte de viver no adulto. É possível desligar a tela e dizer “vai brincar”, melhor ainda se conseguir ser lá fora, onde pode haver o encontro entre crianças de diferentes classes e origens. 

Doenças da velhice em crianças 

Hoje os principais problemas de saúde são as doenças cardiovasculares, diabetes, depressão, câncer, obesidade, problemas respiratórios e infertilidade. A maioria são doenças da velhice chegando na infância, em crianças de 9, 10 anos. As causas são processos sociais, ambientais e culturais, como a pobreza, má governança, alimentação ultraprocessada, estresse, violência urbana, sedentarismo, excesso de telas. 

A parentalidade em tempos complexos 

Hoje temos muita informação na internet. Isso é bom e ruim. A gente perdeu as referências de sabedoria, de intuição, a disseminação de saber. Existem por aí muitos manuais de parentalidade com regras rígidas e radicais. Aí criar filhos vira um trabalho sem fim, não há usufruto, curtição, porque não é você se descobrindo como mãe ou pai. É preciso estar sempre se vigiando. Isso gera culpa e angústia. Um conceito que se disseminou, o da criação com apego, fala sobre o colo, a cama compartilhada, a amamentação até mais de dois anos. Mas peraí, a criança que foi amamentada até 1 ano teve uma criação sem apego? Uma criança que dorme no bercinho é criança sem apego? Esses termos são perigosos. Parece que quem cria diferente dos manuais está cometendo um crime, um pecado. Você não vai ser perfeita e nem seu filho. Existe muito radicalismo e a ideia de que a criança em primeiro lugar e a mãe lá em último. A família precisa ser feliz. 

Como criar boas condições de desenvolvimento dos filhos sem tornar a parentalidade um peso sem fim?

Boa informação, escolher bem suas fontes. Ter bom senso. Respeitar a intuição e a sua forma de ser pai ou mãe. Entender que não somos tão importantes, somos uma parte dessa influência na vida dos filhos. Buscar fazer o melhor, cuidando da gente. A regra de ouro é não usar da violência. Vale o “não faça aos outros o que não querem que te faça”. 

A criança é prioridade, mas todo mundo tem que ser feliz, tem que dormir, tem que comer bem. Não só a criança. Os filhos vêm para nos desafiar a sermos pessoas melhores. 

Escolhas melhores = desfechos melhores 

A epigenética mostra que é possível mudar tendências genéticas por meio de atitudes positivas. Através do estilo de vida você reprime genes de adoecimento e faz florescer os genes da saúde. É uma lição da natureza. Então, escolhas melhores significam desfechos melhores para nós e nossos filhos. Como? Foco na alimentação saudável, baseada em plantas, grãos integrais e ômega 3, atividade física como rotina e controle de estresse. Atenção aos agrotóxicos, plásticos, cosméticos, drogas e cigarro. Se quisermos isolar um fator como o principal para o adoecimento humano hoje esse fator se chama alimentação ultraprocessada. Açúcar, gorduras ruins e sal em enorme quantidades junto com aditivos químicos. 

Como buscar a reconexão na familia

Redescubra o convívio e a alegria. Diminua o tempo de telas. Conviva com os filhos pelo menos 10% do seu tempo de vigília, algo que o médico Daniel Becker chama de dízimo. Dá pelo menos uma hora e meio diária de convívio. É uma medida mínima interessante. Invista em passeios ao ar livre, na natureza e em vida cultural. Por fim, o médico aconselha fazer as refeições em família deixando as telas de lado.

Além das dicas preciosas que Daniel Becker compartilhou com a Escola de Pais e que eu resumi acima, é possível, acompanhando aqui o instagram dele, ter acesso a mais conteúdo de qualidade sobre parentalidade e infância.


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