Porque meu filho come miojo

Nunca tive nenhum tipo de intolerância alimentar e nunca fui gordinha.
Passei minha infância regada a bolacha bono, MUITO nescau, coca cola, chocolate, nega maluca, miojo, nuggets, lasanha e polenta.
A única comida de verdade que eu comia era arroz, feijão e bife.
Não comia salada e nenhum tipo de fruta.
Desde os meus 22 anos venho tentando melhorar minha alimentação.
Comecei a comer alface e rúcula aos trancos e barrancos – mas só por causa da balança, depois arrisquei uma cenourinha ralada, brócolis e couve flor, e até hoje tenho minhas frescuras.
Semana passada, foi a primeira vez que comi uma banana, depois de quase 25 anos. Parei de comer com 4 anos, o pediatra dizia pra minha mãe não insistir – e esse discurso devia ser cômodo pra ela.
Mas não vou julgar, até porque a informação que se tinha era completamente diferente naquela época, e não quero ser julgada também.
Sou a maior viciada em chocolate que eu conheço (e que todo mundo que me conhece, conhece).
A alimentação do Dudu é quilometricamente melhor do que foi a minha, mas ainda longe do que é considerado ideal.
Ele come e ama quase todas as frutas – mínimo de 2 porções por dia, almoça e janta comida de verdade (sem frituras, nem industrializados), não bebe suco de caixinha (exceto no lanche coletivo da escola e em ocasiões esporádicas fora de casa) e encara uma saladinha, desde que bem cortada e camuflada no arroz.
Se ele já comeu todos as besteiras listadas na alimentação da minha infância? Sim (exceto refrigerante).
Semana passada, inclusive, fiz um miojo porque estava na correria e minha ajudante tá de férias.
Ainda assim tento dar sem aquele pó, e me sinto uma mãe de bosta, mas é a vida.
Essa semana a Bela Gil foi atacada nas redes sociais por postar uma foto da lancheira de sua filha, que continha banana da terra e batata doce, granola caseira e água.
Alguns falaram inclusive que tinham pena da menina.
Pena. Por quê?
Porque ela come o que é saudável de verdade (e GOSTA), não produz lixo e está fazendo um bem pra ela?
Sobre isso, escreveu uma BELA resposta em seu blog. Acho o máximo, e mesmo estando anos distante da realidade delas, acredito muito nesse modelo alimentar.
Para a consciência coletiva, a cultura e os hábitos de um povo mudar, precisamos de gente “radical”, que beire o absurdo para alguns. É assim que, normalmente, a sociedade desperta.
Estou assistindo ao seriado Mad Men (recomendo!), que se passa entre os anos 60 e 70.
No início da temporada, fumar não fazia mal pra saúde, a indústria vendia o cigarro como algo magnífico. Todo mundo fumava em qualquer lugar.
Quando um dos personagens sofreu um infarto, o médico recomendou que ele consumisse bastante manteiga e leite.
Ninguém se excercitava, faziam piquenique e deixavam seu lixo no chão, e as mulheres que trabalhavam eram mal vistas, ou discriminadas.
Quanta mudança de lá pra cá, não? Já parou pra pensar o que vem pela frente?
Ou tá pensando que o mundo parou na nossa cabeça?
Eu me pergunto quantas das nossas “verdades” ainda vão cair, e quantas já estão caindo, mas a gente insiste em não enxergar.
Acho que nós, enquanto pais e cidadãos, devemos abrir nossos olhos e nossa cabeça, para as mudanças e melhorias que podemos fazer não só à alimentação, mas também com relação ao lixo, a água e o planeta em geral.
Ninguém muda do dia pra noite, eu sei. São anos de uma vida agindo de uma forma e comendo porcarias, é impossível que uma atitude radical – pelo menos pra mim – seja realmente eficaz. Tô bem longe de ser exemplo!
Adquirir a consciência é o primeiro passo. Mas é claro que, além da luta contra os hábitos e vícios de uma vida, existem outras questões que dificultam com que as pessoas, ainda que com vontade, tenham a alimentação da Bela Gil.
Um dos problemas é a acessibilidade. Não é todo mundo que tem acesso a alimentos saudáveis.
É muito mais fácil (e barato) dar um miojo do que ir atrás de alimentos orgânicos e cozinhar em casa.
Sem falar no tempo! Tem gente que trabalha tanto que mal dá conta de fazer os deveres de casa com os filhos. Sei que isso não é o correto, mas infelizmente a realidade de muita gente é essa.
Comida saudável de verdade é sinônimo de perecibilidade, normalmente são mais caras ou difíceis de encontrar.
Lembro que quando eu estava grávida tentei fazer uma reeducação alimentar.
Parei quando tive que percorrer várias casas de produtos naturais e diferentes mercados da cidade atrás de cada produto da minha dieta prescrita pela nutricionista. Pro meu ritmo de trabalho, na época, foi bem difícil, até que eu desisti.
De lá pra cá essa situação já melhorou muito. A procura por esses produtos aumentou, logo fez com que a oferta nos locais crescesse também.
E nós?
Infelizmente, continuamos recorrendo aos industrializados e às caixinhas (porém reduzimos).
Eu cedo ao pedido do Dudu por um iogurte do solzinho, ele ama comer sucrilhos com o pai, mas tudo dosado.
Por outro lado, começamos a consumir orgânicos, procuro cortar as besteiras nos dias de semana e substituir o leite de vaca, além de incluir muitas frutas e verduras.
Se a nossa alimentação é a melhor de todas? Claro que não é.
Mas a consciência e as pequenas melhorias, quando contínuas, podem quebrar os velhos hábitos a longo prazo. Procuro melhorar dentro da minha realidade, e sei que temos um longo caminho pela frente.
Tenho certeza de que pro Dudu, é muito mais fácil do que está sendo pra mim.
Queria eu ter tido a oportunidade de me alimentar como a filha da Bela Gil.
Realmente não entendo porque há o preconceito com quem come comida de verdade, quando o inverso que deveria acontecer.
Acho que cada um pode melhorar dentro da sua realidade, sem precisar atacar o outro.
Uma ressalva:
Eu não dou miojo regularmente para o Dudu, nem considero como um alimento. Mas assim como ele come coxinha e pastel em festinhas vez ou outra, o miojo é uma exceção.