Maternidade pelo mundo: Renata Miguel compartilha sua experiência de parto na China

Olá, me chamo Renata, sou de Santa Catarina, e vim parar na China transferida pela empresa onde trabalho para ajudar com desenvolvimento de produtos aqui e sendo uma ponte entre os escritórios nos dois países. Isso aconteceu em 2015 com o prazo máximo de dois anos, mas o amor pelos lados de cá foi tão grande que acabei ficando!

Moro em Shenzhen, uma das 4 grandes cidades chinesas – fica bem ao sul, na divisa com Hong Kong, e tem 15 milhões de habitantes. Eu costumo brincar que viver aqui é como viver em qualquer grande metrópole mundial,  com tudo o que uma cidade desse porte pode oferecer somente não sabendo muito bem a língua!

Casei em 2019 e a tentativa de engravidar estava nos planos logo após a nossa lua de mel, em janeiro de 2020 –  que não foi muito convencional e teve até escalada de seis horas montanha adentro, em Uganda, para ver gorilas. Em junho de 2020, depois de um teste de farmácia, nosso sonho começava com a descoberta da Mia, com 6 semanas.

Família sempre participando mesmo de longe

Nunca tive medo de engravidar e ter bebê na China. Minha obstetra, chinesa, fez até especialização no Reino Unido e a comunicação – em inglês – sempre fluiu bem. Uma coisa a menos para me preocupar durante a gestação. Meu ginecologista no Brasil é também quem me trouxe ao mundo. Conhece a família toda. Aqui na China,  se a mãe está bem e se o bebê também está bem, as consultas duram 5 minutos. Foi difícil me adaptar a essa praticidade no inicio, mas depois passei a adorar. 

Ah, vale falar que resolvi ter a Mia em um hospital publico chinês e não em hospital internacional. Hospitais públicos são pagos aqui na China, porém como trabalho legalmente e tenho visto de residência, pagando impostos locais, tive uma série de benefícios que em hospital internacional quadruplicariam o valor.

A primeira curiosidade é que na China o sexo do bebê não pode ser revelado. Se o médico é pego falando o sexo do bebe para uma paciente, ele pode perder sua licença medica. Na política de filho único (hoje isso mudou e já são liberados até 3 filhos por família) e a predileção por meninos (que quando mais velhos, cuidam dos seus pais), veio a proibição de saber o sexo antes do parto. 

Quanto mais os meses avançavam e Mia ficava maior, pior eram as imagens de ultrassom.

Soube o sexo somente no 5º mês, por um valor bem alto, em um hospital internacional, e somente por ser estrangeira. Admiro muito quem descobre só na hora. Já estava muito ansiosa para saber se era menino ou menina.

Chá revelação com a família no Brasil, encomendamos um bolo para os nossos pais e irmãos e cortamos ao mesmo tempo.

Apesar da medicina ser toda ocidental – como conhecemos – para regularizar minha tireóide me prescreveram comer alga e para a azia à noite, indicaram parar de beber água gelada. Claro que adotei tudo e, para mim, funcionou.

O NIPT, aquele exame não-invasivo para verificar as possíveis trissomias do bebê, é padrão na China. Fiz dois ao longo da gravidez. No Brasil, além de caro e quase nenhum plano cobrir, ele é usado também para sexagem fetal, porém esse resultado é excluído do laudo na China.

Aqui a principal figura no parto é a parteira (midwife) e fui conhecê-la somente no dia em que Mia nasceu. Éramos só eu, meu marido e Ating (nossa parteira querida) em todo o processo. No pacote “VIP” que pegamos, a sala de parto era individual, mas existem salas de parto coletivas aqui, com até 5 mulheres ganhando bebê ao mesmo tempo. Por mais que esteja bem habituada aos costumes locais, essa ideia era demais para mim – além do marido não poder entrar na sala coletiva. Não me arrependo da nossa escolha.

Me amei de barrigona! Tenho muita saudades dela.

No Brasil, está muito difundido o parto humanizado. Não quis pesquisar muito sobre isso pois tinha certeza que eram práticas que a China ainda nao adotava (só na minha cidade, 240.000 crianças nasceram em 2019! É muito bebê!). Para minha surpresa, pudemos colocar playlist, teve golden hour, tudo em um ambiente muito propício para uma bebezinho vir ao mundo! Só os registros que ficaram por conta do marido pois fotógrafo em sala de parto é algo que nem se cogita aqui.

Um mês antes da data prevista de parto fizemos exames de covid semanais, só assim para poder internar no hospital)

Fui para o hospital às 17:00 e às 21:48 Mia nasceu. Considero sorte de principiante + alinhamento dos astros + alguém lá em cima olhando por uma mãe medrosa e longe do seu país com barreira de língua e costumes.

Na China eles são a favor do parto normal e só se houver risco para a criança ou mãe é que partem para uma cesárea. Minha mãe teve 3 cesáreas e eu achei que fosse repetir a “ tradição” familiar, hehe, mas após algumas conversas com a obstetra e parteira tomei coragem e resolvi optar pelo parto normal.

Não quis ler nenhum livro sobre gravidez ou parto antes de ganhar a Mia e acho que isso me ajudou a ganhar confiança e acreditar 1000% nos meus instintos.

Sanduiche de Mia! Esmagamos muito, sempre, aproveitando todo o tempo que estamos com ela.

Ah, uma coisa curiosa é que não existem muitas campanhas sobre o aleitamento materno e vemos poucas mães amamentando na rua (apesar de ter locais especiais para amamentação até no metrô). 

Meu marido vem sendo essencial, dividindo as tarefas do dia a dia e também acordando nas madrugadas – UFA (agora menos, porque – apesar de parecer impossível – o sono do bebê melhora conforme o tempo passa). Tenho também três grandes amigas que são fundamentais. Dizem que para criar uma criança é preciso uma vila então elas são a minha vila que, apesar de enxuta (por estar longe), vale ouro e vale por 1000.

Minha “ vila”: reduzida, mas muito especial

Mia com quatro meses e meio.
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