Cada cabeça, uma sentença
Relatos diferentes sobre a amamentação
Somente no Brasil, há dois anos atrás nasceram 2.728.273 bebês. Agora se pararmos para pensar que em um ano nasceram quase 3 milhões de bebês, quantos relatos diferentes de amamentação teríamos? E ainda assim, muitas vezes nos sentimos culpadas pela nossa experiência não ter sido fácil como mostram nos filmes, novelas e seriados.
E parei para refletir como nós mães podemos nos ajudar, sem invadir a trajetória da outra? Na minha visão e experiência, percebi que o comparativo pode prejudicar quando não vem carregado de compaixão, pode vir disfarçado de cobrança ao invés de apoio.
Então fica a conclusão de que é preciso nos informarmos sobre a amamentação e que um relato cuidadoso de uma outra mãe pode nos trazer acolhimento nesse momento da amamentação.
Por isso, trouxe experiências que acho válida para ser compartilhada. Gostaria de deixar uma observação que vou dar nomes fantasia para cada experiência relatada.
Experiência do Mamilo muito machucado e bebê com Freio Lingual
Alice teve o plano de parto efetuado com sucesso, a golden hour do jeito que sonhou. Quando ganhou alta da maternidade e foi pra casa, a amamentação desandou. Foi durante a primeira semana que o seio começou a ficar dolorido e ter rachadura, ela lembra da sensação de doer e depois melhorar e pensar que ia ficar tudo bem. Foi então que a pediatra disse que ela aparentava ter freio lingual e ao procurar a ajuda da fonoaudióloga o diagnóstico foi feito e fizeram o corte que foi um procedimento rápido de 5 minutos. Alice relatou que passou uma pomada de lanolina e óleo dersani (de girassol) nos ferimentos do seio e também que indicaram pegar sol, mas na semana em que o seio precisou choveu muito. Disse que o seio melhorou, mas que em alguns momentos ainda ficavam um pouco doloridos mas que no final do primeiro mês as duas já haviam aprendido a dar mama e a mamar.
Experiência da Depressão pós parto e Translactação
Bianca leu muito sobre a amamentação e rotina do bebê durante a gravidez e relatou que dentro da sua mente ela seria a “expert” da maternidade. Quando seu bebê nasceu, se deparou com uma depressão pós-parto que fez com que ela não sentisse aquele amor imediato que falaram que ela sentiria. Ela sentiu culpa e entrou em uma espiral de sentimentos negativos. Além de não dar conta do bebê, também não conseguia dar conta dela e achava que não estava produzindo leite o suficiente, se sentindo a pior mãe do mundo. Se deu conta que a distância entre a teoria e a prática romperam a expectativa, e ao invés de trazer aprendizado trouxe frustração. Bianca procurou ajuda com duas profissionais: psicóloga e uma consultora de amamentação – e foi através da translactação que começou a história perfeitamente imperfeita do relato de amamentação dela e a oportunidade para olhar partes dela que não faziam mais sentido. Mas não foi nada fácil, pois apesar de saber como funcionava o Mamatutti Relactador a prática foi exaustiva, que vivia somente para ordenhar o leite materno e que viveu a verdadeira maratona. Ela pontua a sorte de não ter tido fissuras, mas pontuou que sentiu muita dor na famosa apojadura, quando o leite desceu pela primeira vez ela sentiu as sensações de febre no corpo inteiro, apesar do termômetro não apontar a temperatura acima de 37.5. Sobre a depressão, ela disse que a terapia com a psicóloga ajudou e ainda ajuda nas questões, mas que nas trocas ouviu muitas mães falarem da necessidade de tomar antidepressivos na depressão pós parto.
Vou trazer um parênteses para essa questão de procurar ajuda. Existem dois meios de você procurar ajuda profissional seja ela para a sua saúde mental ou até mesmo para ajuda com a amamentação. Procure ajuda no:
- SUS, ou seja no Posto de Saúde (UBS) ou Policlínica do seu bairro e até mesmo em hospitais. Para esse procedimento é necessário você passar pelo atendimento de um médico na UBS e ele irá encaminhar você para o profissional especializado.
- Particular ou Plano de Saúde – caso você tenha condições financeiras de arcar com consultas.
Experiência da Translactação, Relactação e a entrada de Fórmula
Camila teve muita dificuldade em amamentar, pois ouvia de seus amigos e familiares a importância de amamentar para se sentir mãe de verdade. Teve ferimentos no seio a ponto de chorar cada vez que o bebê encostava no seio e que parou de produzir leite quando viu sangue na boca do seu filho, que nada mais era do que o sangue dos ferimentos do mamilo. Fez laser para ajudar nas fissuras do seio, fazendo o seio cicatrizar quase que por completo e então voltou a amamentar, mas fazendo a translactação a pedidos da enfermeira. Ela disse que chegou a um ponto de exaustão em que não conseguia mais tirar leite com bomba pois a produção havia caído. Por pressão externa, fez acupuntura nos seios para aumentar a produção, trazendo o resultado para as próximas semanas. Então, em mais uma tentativa, ela apostou em outro método: a relactação. Ao invés de introduzir leite materno com a sonda, ela colocou fórmula e foi assim até a produção normalizar. Na terceira ida ao pediatra, ela saiu frustrada pois seu filho não havia ganho peso o suficiente e foi então que ela desabafou com uma grande amiga que a ajudou a enxergar que ela não seria menos mãe por fazer a própria vontade, que era introduzir fórmula infantil na mamadeira. Ela me contou que essa foi a grande virada de chave de vida para ela, pois os benefícios que ela tanto ouvia sobre amamentação não estavam trazendo benefícios para a saúde mental dela. Camila me contou que com essa experiência aprendeu sobre os limites dela e que hoje ela percebe que o vínculo de dar o seio e a mamadeira é o mesmo.
Experiência do Bebê “preguiçoso” e Seio Empedrado
Izadora teve uma cesária de emergência, não amamentou o seu bebê na famosa “golden hour” pois ele precisou ir para a observação. Sentiu seu seio dolorido, pois ainda não havia esvaziado o colostro na primeira mamada da sua filha. Quando deu mama pela primeira vez, o bebê dormiu logo no início e assim foi por mais de uma semana. Ela voltou ao hospital, para visitar o banco de leite, pois seu seio estava empedrado. Disseram que seu filho estava preguiçoso e que era preciso acordar ele, tirar a meia e estimular ele a ficar acordado para mamar. Tinha dias que ela sentia o seio mais duro e então ela passou a amamentar mais vezes o seu bebê até seu corpo ir se adaptando a quantidade correta. Izadora disse que outro dia caiu na besteira de deixar o seio sem sutiã durante o dia e que isso também fez com que empedrasse, segundo uma matéria que ela leu na internet.